02/02/2024 13:26 | Direitos HumanosComunicação

"Queremos paquerar sem assédio"


Card da campanha


Iane Ventura*

A gente quer ir para o carnaval paquerar e ser paquerada, sim! Tem coisa mais gostosa do que olhar, achar bonito e se sentir bonita ao ser olhada? É muito bom flertar, descobrir alguém que te interessa no meio de um mar de gente, chegar junto e trocar aquele beijo, se for consentido. Mas quando o interesse não é mútuo, quando o nosso espaço é invadido; quando o nosso NÃO é visto como ‘charme’, o gosto da diversão acaba e tudo isso vira importunação.


Existe uma grande diferença entre paquera e assédio. Para muitos, isso parece uma diferença sutil, mas, na verdade, o NÃO é sempre óbvio. Quando o olhar se cruza, mas não demora ou quando o sorriso não é correspondido, esse já é o primeiro sinal vermelho. É preciso estar atento: o nosso corpo fala. E quando ele diz NÃO, é hora de seguir em frente, porque até o olhar em excesso pode ser constrangedor e invasivo. Quantas de nós não já sentimos medo por estar na mira de olhos que se fixaram no nosso corpo além da conta?



O assédio pode estar do olhar ao toque, no início, no meio ou no fim de um encontro. Às vezes, você passa na primeira etapa: acontecem os olhares e o sinal verde para o primeiro beijo, mas beijar não é um aval para toques mais íntimos. Isto também precisa ser consentido. Uma amiga, esses dias, me contou uma história do carnaval passado: rolou de dançar, beijar e se divertir com alguém no bloquinho, até que em um momento a pessoa foi acompanhá-la ao banheiro e lá, colocou a mão dentro da sua roupa de forma inesperada e invasiva. Ela não queria esse toque, e mesmo assim a pessoa insistiu. E o que poderia ser um bom dia de carnaval, se tornou um trauma.


Neste caso e em muitos outros, um NÃO deixou de ser respeitado e um limite foi ultrapassado, gerando consequências que repercutem até hoje. Mulheres ficam em estado alerta muito mais vezes do que gostariam; deixam de viver momentos e expressarem a sua autenticidade por medo do que o outro pode fazer. Mas esse cenário pode ser diferente. Porque, quando você respeita o meu NÃO, está dizendo sim para uma série de coisas: o meu direito de ir e vir, de aproveitar sem ser importunada, de dançar, cantar, paquerar e beijar sem medo. Queremos que histórias de carnaval sejam boas para contar.


Mas este será um carnaval em que, estatisticamente, mais histórias ruins como essa vão acontecer. Pode ser comigo, com você, ou com as nossas amigas. E se você identificar sinais como esses, não hesite em dizer: “Deixe ela quieta”. E se mesmo assim não deixarem, lembre, não estamos sozinhas. Por todos os blocos realizados em Alagoas, neste carnaval, mulheres terão o apoio da Delegacia Móvel da Mulher, do Centro Especializado de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Ceam), da  Rede de Atenção às Violências (RAV) e da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher em Alagoas. E você pode denunciar o assédio pelo telefone 181.


*Iane Ventura

Apaixonada por se comunicar, aos meus 27 anos, sou psicóloga e pós-graduanda em psicologia positiva, ciência do bem-estar e auto realização pela PUC-RS. Sou mãe do Bento, produtora de conteúdo e tudo o que a vida me permite ser. Tenho trilhado meu próprio caminho e, como missão de vida, auxilio pessoas a encontrarem os seus. Acredito que a psicologia é um agente social transformador e que ela transformou a minha história, minha forma de entender o mundo e me fez compreender na prática o que é ter qualidade de vida. Por isso, tenho como missão ser uma agente transformadora que, ao melhorar a mim mesma, também me permito melhorar o mundo ao meu redor.