O show não pode parar! Esse é um bordão dos palcos, mas na Galeria de Artes Visuais do Complexo Cultural Teatro Deodoro essa máxima também é regra! Sendo assim a Diretoria de Teatros de Estado de Alagoas (Diteal), já está preparando a próxima exposição que vai ocupar os dois pisos da galeria. Na verdade, são duas exposições, “Susanna e os Velhos” ocupando o mezanino e “Amostradas”, no térreo, ambas com abertura marcada para o dia 16 de maio, às 19h.

“Susanna e os Velhos” é uma mistura, quase que literalmente, de elementos, sentimentos e formas. Também é uma homenagem, já que esse foi o último trabalho do professor da Ufal José Acioli - o primeiro no audiovisual – e, que subiu num palco pela última vez nos anos 80, passando a se dedicar inteiramente à docência.

“Essas exposições são problemáticas, num bom sentido; são inquietantes e instigantes, não tem como vê-las da mesma forma duas vezes. A cada visita, a cada novo olhar sobre as obras, um novo questionamento nasce, uma emoção diferente brota, ainda mais sabendo que umas delas tem ‘os dedos’ do Acioli, deixa tudo mais emocionante”, destaca Sandra Menezes, diretora-presidente da Diteal.

 A obra é uma investigação do movimento não dado. Propõe momentos que acontecem antes e depois da primeira pintura da artista italiana Artemisia Gentileschi (1593-1656), considerada, hoje, uma das mais bem sucedidas pintoras de sua época. Trocando por miúdos, um elenco, do qual o professor Acioli fazia parte, interpretou as obras de Artemísia e as TVs vão ficar exibindo.

“Suas pinturas a óleo são impecáveis e, por séculos, ficaram esquecidas pelo baú da história da arte, mas isso agora é passado. Além disso, boa parte de sua vida nos é contada na internet, a partir da denúncia de estupro que fez do seu professor de pintura no sec XVII, uma das primeiras disputas públicas de uma mulher contra seu agressor”, explica Bruna ‘Bruca’ Teixeira”, organizadora da exposição

Outro detalhe que torna essa exposição ainda mais importante é que ela foi criada por uma equipe totalmente LGBTQIA+ e será lançada na véspera do Dia Mundial de Combate à Homofobia, 17 de maio.

“BruCa” cria uma narrativa contemporânea das obras de Artemísia; dá movimento e conta uma história em quatro vídeoartes que se conectam na videoinstalação. A provocação é: o que aconteceria antes e depois das imagens pintadas; elas se tornam livres de suas molduras?

Amostradas

Geralmente, quando nos referimos a alguém com o termo amostrada ou amostrado, gíria muito popular no Nordeste do Brasil, é com uma conotação ruim; uma pessoa metida, que gosta de aparecer, de se fazer enxergar, de se mostrar ao público, de ser notada.

Mas aqui, esse termo é mais do que apropriado; é necessário e nada tem haver com algo ruim. Trata-se da segunda exposição que vai ficar em mostra junto com a “Susanna e os Velhos”, porém no andar térreo, da galeria, também no período de 16 de maio a 6 de junho.

De forma muito resumida, “Amostradas” é uma reunião de 20 mulheres - artistas, potentes e todos os adjetivos conhecidos para enaltecer uma mulher -, que vão expor sua arte para florear a Galeria de Artes Visuais do Complexo Cultural Teatro Deodoro, mas também com  intuito de questionar, chocar, encantar, alegrar e despertar nossas mais intimas sensações ao contemplar uma obra de arte.

Repara no time desta exposição: Amanda Bambu, bruCa teiXeira, Elza Evangelista, Eva Cavalcante, Gabriela Correia, Mestra Irinéia, Geo Brandão, Marta Arruda. Kelcy Mary, Milla Pasan, Amanda Moa, Bruna Solari, Charlote Borges, Laryssa Andrade, Mik Moreira, Minne Santos, Natie Paz, Vitória Alencar, Punho Coletivo, Sil da Capela e Xiluva. Um time de estrelas das artes de Alagoas.

Livro “Amostradas”

Como se não bastasse juntar todas essas mulheres e expor sua arte, estando sob a curadoria de Bruna (bruCa) Teixeira e Kelcy Mary, ao mesmo tempo que será aberta a exposição, também haverá o lançamento do livro de mesmo título “Amostradas”, que faz parte do catálogo da editora independente Sapatilhas de Arame. Trata-se de uma publicação feita sobre e com alagoanas que, de certa forma, subverteram o sistema artístico moral de seu tempo, no que diz respeito à diversidade de traços, atitudes visuais e curatoriais, e de corporalidades não convencionais para as artes visuais de Alagoas. Arte contemplativa para as Amostradas, não basta.

Ticiane Simões é uma das produtoras das mostras e conta que foi desafiador participar dessa empreitada. “A primeira delas, Amostradas, já chegou com a curadoria impecável dessas duas queridas que é  Kelcy e Bruca, foi uma delícia acompanhar as imagens no texto e vê-las ganhando as paredes e totens da galeria. Elas tomaram conta lindamente - e politicamente - dessa galeria” destaca Ticiane.

Em relação a “Susanna e os Velhos”, ela diz que “a parada foi diferente”. Foi emotiva, foi ansiosa, a própria está participando da obra enquanto atriz, enquanto preparadora do elenco “Com essa exposição, essa vídeoinstalação, pude criar, embora já tivesse um caminho proposto, mas pude pensar o como seguir por ele. Enfim, foram dois grandes desafios que agora, com ambas prontas para receber o público, viraram dois grandes orgulhos. Que venha a estreia, tá tudo lindamente pensado em receber vocês!” conta.

Essas duas exposições têm um caráter além do estético e do artístico. Tem um papel social muito forte e vem num momento significativo e simbólico, visto a data de sua abertura, sem contar que é um misto de homenagem e valorização de grande nomes das artes visuais do nosso estado.

“Para a Galeria de Artes Visuais do Teatro Deodoro, entender e receber as exposições propostas foi muito estimulante: o ineditismo para a galeria da exposição “Susanna e os velhos”, uma videoinstalação, baseada na obra da artista italiana Artemisia Gentileschi (1593-1656), resultado de um trabalho que contou com artistas importantes do cenário local, e uma dinâmica de produção que nos trouxe um resultado artístico encantador. E a coletiva “Amostradas”, traz em sua proposta, de forma contundente, a fala feminina contemporânea. Com as duas exposições, trazemos um diálogo com a comunidade através de suas obras, que é importante, que é esteticamente bela e arrojada, que tem sua pegada social e que, de forma ampla, trás uma militância diversa, pautada em questões dos nossos dias, das nossas dores e, lógico, das nossa conquistas e avanços”, comemora Alexandre Holanda, gerente artístico-cultural da Diteal.

Serviço:

O que: Exposições Susanna e os Velhos e Amostradas

Onde: Galeria de Artes Visuais do Complexo Cultural Teatro Deodoro

Abertura: 16/05, terça-feira, às 19h

Período: 16/05 a 16/06

Entrada franca